quinta-feira, 6 de março de 2008

• TEXTOS


Abstracto...


Volutas, espirais,
Os círculos ângulos
Os traços eternos,
Relevo e distância...
Sem modo ordenado,
Dez mil dimensões
Vibram consonância...
No espaço primário
Imoto, fugaz,
Turbilhonam planos
Que o sonho faz...
Dançam perspectivas,
Modos inumanos,
Esplendem brilhos, cores
Chegadas do tempo
Nascidas da terra
Do mar e do vento...
A cósmica festa
Que o pintor vê
E entrega aos homens
Sem escolher para quê...


M. Ana Tavares
2006



Segundo alguns eruditos as técnicas de gotejamento conhecidas por dripping, não teriam sido criadas por Pollock, mas sim por Max Ernst. Isso não chegaria a surpreender pois a sua mente fecunda, também criadora das grattages, das collages e das frottages, parece efectivamente ter querido deixar às gerações futuras pouca margem de manobra em matéria de inovação.

Pollock no entanto levou esse processo ao limite e a dada altura passou a utiliza-lo como estilo exclusivo.

De qualquer modo para praticar esta técnica o artista tem que abandonar os pincéis ou passar a utilizá-los apenas para lançar, em gestos largos, porções, gotas ou salpicos de tinta sobre a tela.

Este tipo de arte, vulgarmente conhecido como expressionismo abstracto, parece ser a dimensão em que José Dominguez habilmente se movimenta.
Todavia, este artista, para além de se mover com desenvoltura neste universo, criou uma técnica muito pessoal pois nas suas obras existe uma sucessão de desníveis e volumetrias onde as manobras cromáticas se plasmam em diferentes planos dando ideia, conforme o ângulo em que o observador se coloque, que estamos perante, não de um, mas de uma profusão de quadros, o que conduz à possibilidade síncrona de várias leituras.

Esta experiência cria um motivo de interesse adicional para quem contempla a pintura de José Dominguez.

Estes quadros são igualmente cativantes pelo equilíbrio das composições e por uma certa contenção cromática que gera obras extremamente sóbrias e harmoniosas.


Hélio Cunha

2008


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